terça-feira, 15 de maio de 2012

O poder da fé ::

O poder da fé
Ana Cristina Campos

«Revista de Espiritismo» nr. 40, Julho/Setembro 1998

A constatação da falta de fé reinante em todos os níveis da vida é um fato de observação diária para qualquer pessoa que se preocupe com o estado atual da humanidade. Falamos não somente da fé divina, mas também da fé humana.
Chegou-se a um tal estado de desânimo, de pessimismo, de descrença das potencialidades da criatura humana, que a maior parte das pessoas não acredita em si própria. Surgem dúvidas quanto à eficácia da bondade e caridade face ao domínio das trevas; qual a utilidade da labuta diária, tantas vezes feita de renúncias e sacrifícios, quando o futuro se apresenta sombrio e inatingível, devido em grande parte às ideias divulgadas pelos profetas da desgraça, que se comprazem em baixar o nível moral e mental de todos os que deles se aproximam; que gosto ou estímulo dá a observação diária dos noticiários do mundo que só apresentam desgraças, crimes, violências, sem que as notícias boas compensem as más (não se faz aqui a apologia de ignorar o estado do mundo só porque ele é desagradável, mas a simples verificação de que o que vende mais é a notícia triste e macabra).
Estamos, é certo, no "fim dos tempos" preditos por Jesus e por todos os profetas antes e depois dele. Mas, reconhecer isso é sinônimo de cruzar os braços e desanimar? Não! Definitivamente não. É agora que nos cumpre trabalhar mais e melhor, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para levantar a moral da humanidade. E aí cabe um importante papel ao espiritismo como Consolador prometido e ao movimento espírita em particular. É agora o momento ideal para informar as pessoas, não que chegou o "fim dos tempos", mas que se avizinha uma nova era que está ao nosso alcance e em que todos somos chamados a colaborar.
Para mudar este estado de coisas é preciso que o ser humano tenha fé em si próprio. Qualificando a fé como o sentimento inato no homem sobre o seu destino, vemos que ela não se impõe, mas que todos podem adquiri-la em maior ou menor proporção, desde que se mentalizem capazes de uma vontade de querer e acreditem que essa vontade pode realizar-se. Era isto que Jesus referia ao dizer aos apóstolos: "Gente de pouca fé, porque na verdade vos digo que se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá; e ele há-de passar, e nada vos será impossível (Mateus, XVII, 14-19).
Todos temos que acreditar nas nossas próprias forças para vencer as dificuldades, para "mover as montanhas" da indiferença, da angústia, da má vontade, da rotina, das paixões inferiores. A fé traz-nos paciência, calma e o discernimento necessário para enfrentar o futuro, por mais incerto que se apresente. Esta é a fé humana de que precisa toda a criatura.
Se a esta juntarmos a fé divina, que é a alavanca do progresso da humanidade, chegaremos à fé que realiza milagres. Atualmente acreditar em milagres não faz mais sentido, desde que a ciência, principalmente o magnetismo, tem vindo a explicar as leis naturais por que se regem esses fatos prodigiosos. Também aí é ainda a fé que, aliada à ação magnética, age sobre o fluido que é agente universal, princípio e causa de todas as coisas.
Quem melhor que Allan Kardec estudou esses fenômenos do magnetismo e que o levaram a concluir: "Eis porque as pessoas que aliam uma fé ardente a uma grande potência fluídica normal podem, pela simples vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura que antigamente eram considerados prodígios, quando são apenas a consequência de uma lei natural (em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. XIX). Desde que se conheça as leis naturais que regem todos os atos da vida, explicando e compreendendo-os, deixa de haver milagres, porque os fatos como tal qualificados hoje terão a sua explicação lógica na ciência de amanhã.
A fé é humana e divina. Se todas as pessoas tivessem consciência da força que trazem em si mesmas e se estivessem dispostas a colocar a sua vontade ao serviço dessa força, seriam capazes de operar prodígios que mais não são que o desenvolvimento harmônico e equilibrado das faculdades humanas. Qualquer ser humano que esteja disposto a agir, trabalhando com vontade séria para o bem dos outros, será sempre secundado e ajudado pelos bons espíritos que se preocupam com o destino da humanidade.

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