quarta-feira, 23 de maio de 2012

Amai os vossos inimigos ::

A LIÇÃO INESQUECÍVEL
Neio Lúcio
 
   
Hilda, menina abastada, diariamente dirigia más palavras à pequena vendedora de doces que lhe batia humildemente à porta da casa.

- Que vergonha! De bandeja! De esquina a esquina! Suma daqui! - gritava, sem razão.
 
A modesta menina se punha pálida e trêmula. Entrementes, a dona da casa, tentando educar a filha, vinha ao encontro da pequena humilhada e dizia bondosa:
 
- Que doces tão perfeitos! Quem os fez assim tão lindos?
 
A mocinha, reanimada, respondia, contente:
 
- Foi a mamãe.
 
A generosa senhora comprava sempre alguma coisa e, em seguida, recomendava à filha:
 
- Hilda, não brinques com o destino. Nunca expulses o necessitado que nos procura. Quem sabe o que sucederá amanhã?
 
A menina resmungava e, à noite, ao jantar, o pai secundava os conselhos maternos, acrescentando algo:
 
- Não zombes de ninguém, minha filha! O trabalho, por mais humilde, é sempre respeitável e edificante. Aqueles que socorremos serão provavelmente os nossos benfeitores.
     
Mas,no dia seguinte, Hilda fustigava a vendedora, exclamando:
 
- Fora daqui! Bruxa! Bruxa! ...
 
E a mãe de Hilda sempre acolhia a pequena.
 
Correu o tempo e, depois de quatro anos, o quadro da vida se modificara.
 
O paizinho de Hilda adoeceu e debalde os médicos procuraram salvá-lo. Morreu numa tarde calma, deixando o lar vazio.
 
A viúva recolheu-se ao leito extremamente abatida e, com as despesas enormes, em breve a pobreza e o desconforto invadiram-lhe a residência. A pobre senhora mal podia mover-se.
 
Privações chegaram em bando. A menina, anteriormente abastada, não podia agora comprar nem mesmo um par de sapatos.
 
Aflita por resolver a angustiosa situação, certa noite Hilda chorou muitíssimo, lembrando-se do papai.
 
Oh! Papai... Meu papai...
 
Dormiu, lacrimosa e sonhou que ele vinha da Espiritualidade confortá-la.
 
-Papai...Papai...
 
-Minha filha!
 
Ouviu-o dizer, perfeitamente:
 
- Não desanimes, minha filha! Vai trabalhar! Vende doces para auxiliar a mamãe! ...
 
Despertou, no dia imediato, com o propósito firme de seguir o conselho.
 
Ajudou a mãezinha enferma a fazer muitos quadradinhos de doce-de-leite e, logo após, saiu a vendê-los. Algumas pessoas generosas compravam-nos com evidente intuito de auxiliá-la, entretanto, outras criaturas, principalmente meninos perversos, gritavam-lhe aos ouvidos:
 
- Sai daqui! Bruxa de bandeja! ...
 
Sentia-se triste e desalentada, quando bateu à porta de uma casa modesta. Graciosa jovem atendeu.
 
- você Hilda ?
 
- Oh! Eu...
 
Hilda esperava ser maltratada por vingança, já que era a jovem que noutro tempo vendia cocadas.
 
- Que doces tão perfeitos! Quem os fez assim tão lindos?
 
A interpelada lembrou os ensinamentos maternos de anos passados e informou:
 
- Foi a mamãe.
 
A ex-vendedora comprou quantos quadradinhos restavam na bandeja e abraçou-a com sincera amizade.
 
Desse dia em diante, a menina vaidosa transformou-se para sempre. A experiência lhe dera inesquecível lição.
 
 
Livro A Vida Fala III. Psicografia de Francisco C. Xavier.
 
 
 
 

 
 

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