segunda-feira, 30 de abril de 2012

Perfeição Moral ::

O Livro dos Espíritos

Parte Terceira – Capítulo 12

Perfeição moral

As virtudes e os vícios – Paixões – Egoísmo – Características do homem de bem – Conhecimento de si mesmo

As virtudes e os vícios

893 Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– Todas as virtudes têm seu mérito, porque indicam progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas a sublimidade da virtude é o sacrifício do interesse pessoal pelo bem de seu próximo, sem segundas intenções. A mais merecedora das virtudes nasce da mais desinteressada caridade.
894 Há pessoas que fazem o bem de maneira espontânea, sem precisar vencer nenhum sentimento contrário; têm tanto mérito quanto as que têm de lutar contra sua própria natureza e que a superam?
– As que não têm de lutar é porque nelas o progresso está realizado. Lutaram antes e venceram. Para estas os bons sentimentos não custam nenhum esforço e suas ações parecem todas naturais: para elas o bem tornou-se um hábito. Deve-se honrá-las como a velhos guerreiros que conquistaram respeito.
Como ainda estais bem longe da perfeição, esses exemplos espantam pelo contraste e são mais admirados por serem raros; mas sabei que, nos mundos mais avançados, o que aqui é exceção lá é a regra. O sentimento do bem é espontâneo por toda parte, porque são habitados só por bons Espíritos, e uma única má intenção seria para eles uma exceção monstruosa. Por isso nesses mundos os homens são felizes. E assim será na Terra quando a humanidade se transformar, compreender e praticar a caridade em seu verdadeiro sentido.
895 Além dos defeitos e vícios sobre os quais ninguém se enganaria, qual o sinal mais característico da imperfeição?
– O interesse pessoal. As qualidades morais são, freqüentemente, como banho de ouro sobre um objeto de cobre que não resiste à pedra de toque1. Um homem pode ter qualidades reais que fazem dele, diante de todos, um homem de bem. Mas essas qualidades, ainda que sejam um progresso, nem sempre resistem a certas provas, e basta tocar no interesse pessoal para colocar o fundo a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa tão rara na Terra que é admirado como um fenômeno quando se apresenta.
O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo menos compreende sua destinação. Pelo desinteresse, ao contrário, prova que vê o futuro sob um ponto de vista mais elevado.
896 Existem pessoas desinteressadas e sem discernimento, que esbanjam seus bens sem proveito real por falta de um uso criterioso. Terão, por isso, algum mérito?
– Elas têm o mérito do desinteresse, mas não do bem que poderiam fazer. Se o desinteresse é uma virtude, a extravagância é sempre, pelo menos, falta de senso. A riqueza não é dada a alguns para ser jogada ao vento, nem a outros para ser trancada numa caixa-forte. É um depósito ou um empréstimo de que deverão prestar contas, porque terão de responder por todo bem que poderiam ter feito e não fizeram, e por todas as lágrimas que poderiam secar com o dinheiro que deram aos que não tinham necessidade.
897 É repreensível aquele que faz o bem, sem visar recompensa na Terra, mas na esperança de ser recompensado na outra vida, para que lá sua posição seja melhor? Esse pensamento prejudica seu progresso?
– É preciso fazer o bem pela caridade, com desinteresse.
897 a Entretanto, cada um tem o desejo natural de progredir, para sair do estado aflitivo desta vida; os próprios Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse objetivo; será, então, um mal ao pensar que fazendo o bem podemos esperar mais do que na Terra?
– Certamente que não; mas aquele que faz o bem sem segundas intenções e pelo único prazer de ser agradável a Deus e ao próximo já está num certo grau de adiantamento que lhe permitirá atingir muito mais cedo a felicidade do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem calculadamente e não por uma ação espontânea e natural de seu coração. (Veja a questão 894.)
897 b Não há aqui uma distinção a fazer entre o bem que se pode fazer ao próximo e o esforço que se faz para corrigir as próprias faltas? Concebemos que fazer o bem com o pensamento de que será levado em conta em outra vida é pouco meritório. Mas corrigir-se, vencer as paixões, melhorar o caráter para se aproximar dos bons Espíritos e se elevar será igualmente um sinal de inferioridade?
– Não, não. Quando dizemos fazer o bem, queremos dizer ser caridoso. Aquele que calcula o que cada boa ação pode lhe render na vida futura, assim como na terrestre, age como egoísta. Porém, não há nenhum egoísmo em desejar se melhorar para se aproximar de Deus, porque esse deve ser o objetivo para o qual cada um de nós deve se dirigir.
898 Uma vez que a vida no corpo é temporária e que nosso futuro deve ser a principal preocupação, é útil o esforço para adquirir conhecimentos científicos referentes apenas às coisas e às necessidades materiais?
– Sem dúvida. Inicialmente isso fará aliviar vossos irmãos; depois, vosso Espírito se elevará mais rápido se já progrediu em inteligência; no intervalo das encarnações, aprendereis em uma hora o que levaria anos na Terra. Todo conhecimento é útil; todos contribuem para o progresso, porque o Espírito para chegar à perfeição deve saber de tudo. Como o progresso tem de se realizar em todos os sentidos, todas as idéias adquiridas contribuem para o desenvolvimento do Espírito.
899 Dois homens são ricos: um nasceu na riqueza e nunca conheceu a necessidade; o outro deve sua riqueza ao trabalho. Tanto um quanto outro a empregam para satisfação pessoal. Qual o mais culpável?
– Aquele que conheceu os sofrimentos. Ele sabe o que é sofrer. Conhece a dor mas não a alivia nos outros porque muito freqüentemente nem se lembra dela.
900 Para quem acumula sem cessar e sem fazer o bem a ninguém será válida como desculpa a idéia de que acumula para deixar mais aos herdeiros?
– É um compromisso de má consciência.
901 Há dois avarentos: o primeiro priva-se do necessário e morre sobre seu tesouro; o segundo é somente avarento para os outros; mas pródigo para si mesmo, enquanto recua diante do mais breve sacrifício para prestar um serviço ou fazer uma coisa útil, nenhum custo é bastante para satisfazer seus gostos e paixões. Peça-lhe um favor, e ele sempre é difícil; mas quando quer realizar uma fantasia, tem sempre o bastante. Qual é o mais culpável e qual deles ficará em pior situação no mundo dos Espíritos?
– Aquele que desfruta das coisas; ele é mais egoísta do que avarento: o outro já vive uma parte de sua punição.
902 É errado desejar a riqueza para fazer o bem?
– O sentimento é louvável, sem dúvida, quando é puro; mas será esse desejo desinteressado e não esconderá nenhuma segunda intenção pessoal? A primeira pessoa à qual se deseja fazer o bem não é freqüentemente a si mesmo?
903 É errado estudar os defeitos dos outros?
– Se é para divulgação e crítica há grande erro, porque é faltar com a caridade. Porém, se a análise resultar em seu proveito pessoal evitando-os para si mesmo, isso pode algumas vezes ser útil. Mas é preciso não esquecer que a indulgência com os defeitos dos outros é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurar os outros pelas imperfeições, vede se não se pode dizer o mesmo de vós. Empenhai-vos em ter as qualidades opostas aos defeitos que criticais nos outros, esse é o meio de vos tornardes superiores; se os censurais por serem mesquinhos, sede generosos; por serem orgulhosos, sede humildes e modestos; por serem duros, sede dóceis; por agirem com baixeza, sede grandes em todas as ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não se possa aplicar a vós estas palavras de Jesus: “Vêum cisco no olho de seu vizinho e não vê uma trave no seu”.
904 É errado investigar e revelar os males da sociedade?
– Depende do sentimento com que se faz; se o escritor quer apenas produzir escândalo, é um prazer pessoal que procura, apresentando quadros que mostram antes um mau do que bom exemplo. Apesar de ter feito uma avaliação, como Espírito, pode ser punido por essa espécie de prazer que tem em revelar o mal.
904 a Como, nesse caso, julgar a pureza das intenções e a sinceridade do escritor?
– Isso nem sempre é útil mas, se escreve coisas boas, aproveitai-as. Se forem más, ignorai-as. É uma questão de consciência dele. Afinal, se deseja provar sua sinceridade, deve apoiar o que escreve com seu próprio exemplo.
905 Certos autores publicaram obras belíssimas, de elevada moral, que ajudam o progresso da humanidade, mas eles mesmos não tiram delas nenhum proveito; como Espíritos, será levado em conta o bem que fizeram com essas obras?
– A moral sem as ações é a semente sem trabalho. De que serve a semente se não é multiplicada para vos alimentar? Esses homens são mais culpáveis, porque tiveram a inteligência para compreender. Não praticando os ensinamentos que deram aos outros, renunciaram a colher seus próprios frutos.
906 É errado, ao fazer o bem, ter consciência disso e reconhecê-lo?
– Tendo consciência do mal que faz, deve o homem também ter consciência do bem e saber se age bem ou mal. Ponderando suas ações diante das leis divinas, e principalmente na lei de justiça, amor e caridade, é que poderá dizer se elas são boas ou más, aprová-las ou não. Ele não estará errado quando reconhecer que venceu suas más tendências e fica satisfeito, desde que não se envaideça, porque então cairá em outra falta. (Veja a questão 919.)

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