segunda-feira, 26 de março de 2012

Estudo sobre a mediunidade ::

4. Os mecanismos da Mediunidade

Na presente seção procuraremos reunir alguns informes sobre os mecanismos da faculdade mediúnica, ou seja, sobre como se dá o fenômeno mediúnico. A fonte básica continuará sendo Allan Kardec. Iniciemos com este trecho do capítulo "Manifestações dos Espíritos", parágrafo 6, n. 34, do livro Obras Póstumas (destacamos):
O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansiva do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos.
Esmiuçando as informações aqui contidas, notamos:
1) O perispírito desempenha papel de capital importância no processo mediúnico. Daí concluímos que somente o Espiritismo nos poderia fornecer explicações amplas e sólidas sobre a mediunidade, já que somente ele nos dá conhecimento racional e experimental desse "corpo espiritual".
2) Sendo o perispírito "o agente de todos os fenômenos espíritas", e estes só podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito, temos como regra sem exceções que ocorrendo um fenômeno espírita necessariamente haverá um médium participando. Em alguns casos, como em certas manifestações de efeitos físicos, não se nota a presença do médium, mas pelo princípio acima exarado podemos estar certos de que haverá alguém, em algum lugar, servindo de médium, ainda mesmo que este não esteja consciente do papel que desempenha.
Prossigamos na explicitação das demais conseqüências que se seguem do trecho de Obras Póstumas que citamos no início desta seção.
3) A presença da faculdade mediúnica em alguém liga-se à possibilidade de seu perispírito "expandir-se". Veremos mais adiante que essa "expansão" pode ser entendida, em outros termos, como a "exteriorização" do perispírito, ou seja, como a sua parcial desvinculação do corpo físico.
4) A efetivação da comunicação exige, além dessa "exteriorização" do perispírito do médium, a assimilação deste com o perispírito do Espírito comunicante, ou seja, tem de haver sintonia entre ambos. Esse fato importante, de que o médium em geral não é capaz de comunicar-se indiscriminadamente com todos os Espíritos, é ressaltado por Kardec no item que segue ao que acabamos de transcrever (grifamos):
As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias.
Passando ao exame do assunto do item 3, acima, vamos colher subsídios em André Luiz, o autor espiritual que tanto tem contribuído para a expansão de nosso conhecimento científico acerca da mediunidade. Em sua obra Evolução em Dois Mundos, ao analisar a fase evolutiva em que se elaborava a faculdade de desprendimento do veículo perispiritual durante o sono (capítulo 17, item "Mediunidade espontânea"), adianta esta valiosa informação (grifamos):
Começaram na Terra os movimentos de mediunidade espontânea, porquanto os encarnados que demonstrassem capacidades mediúnicas mais evidentes, pela comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo espiritual, em certas regiões do campo somático, passaram das observações durante o sono às da vigília, a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo.
Vemos, assim, que o respeitado cientista desencarnado deixa entrever a correlação íntima entre a possibilidade de contato com a realidade espiritual durante a vigília (mediunidade) e um certo "afrouxamento" das ligações entre as células do perispírito e as suas correspondentes do corpo material. Prosseguindo, André Luiz explicita mais essa correlação:
Quanto menos densos os elos de ligação entre os implementos físicos e espirituais, nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência, prevalecendo as mesmas normas para a clariaudiência e modalidades outras, no intercâmbiio entre as duas esferas.
Refletindo um pouco sobre as assertivas de André Luiz, verificamos, inicialmente, que não conflitam com a explicação dada por Kardec, em termos da "expansibilidade" do perispírito do médium. Há, pelo contrário, até um reforço, já que a noção de "expansibilidade" é suficientemente abrangente e flexível para permitir ulteriores elaborações e detalhamentos, dentro da natureza eminentemente progressiva da Doutrina Espírita. Podemos compreender, deste modo, a expansibilidade do perispírito como a sua faculdade de desvinculação parcial e temporária com relação ao corpo físico, passando, neste estado especial, a partilhar da realidade do mundo espiritual, dela colhendo impressões diversas, sem no entanto perder a possibilidade de atuação sobre o corpo denso.
Utilizando-nos de uma comparação um tanto tosca, a mediunidade seria como se uma pessoa colocasse a cabeça para fora de uma janela e transmitisse, através de gestos com as mãos, ou escrevendo, as informações acerca do que estaria vendo, para alguém que permanecesse no interior do aposento. Estaria servindo de intermediário entre o "mundo de fora" e o "mundo de dentro", assim como o médium, ao partilhar simultaneamente da realidade espiritual e da realidade material, serve de intermediário entre esses dois "mundos". Explorando um pouco mais essa analogia, teríamos ainda que quem não é médium estaria na condição de alguém que não conseguisse pôr a cabeça para fora da janela, e nem sequer abri-la, ficando (durante a vigília) inteiramente restrito ao interior da casa. E, de maneira geral, todos nós somos, durante o sono, como alguém que pula a janela, passando a viver plenamente as impressões do mundo "exterior", com reduzidas possibilidades de comunicar o que presenciamos ao mundo "interior".
É fundamental deixar claro que o que acabamos de expor não corrobora de modo algum a idéia popular de que no processo mediúnico o Espírito do médium "sai" e "dá lugar" ao Espírito comunicante, que passaria então a servir-se diretamente do corpo do médium. Os Instrutores Espirituais já esclareceram a Kardec, no importante capítulo "Do papel do médium nas comunicações espíritas", de O Livro dos Médiuns, que essa idéia não corresponde à realidade. A mensagem sempre passa pelo Espírito do médium, mesmo quando ele não guarda disso a consciência ao despertar do transe. Vejamos o que dizem na sexta questão do parágrafo 223:
O Espírito, que se comunica por um médium, transmite diretamente o seu pensamento, ou este tem por intermediário o Espírito do médium?
-- "É o Espírito do médium que é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar à grande distância uma notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente, que a receba e transmita."
Compreendemos então que o comando do veículo físico só pode ser feito pelo seu próprio "dono". Poderíamos dizer que o corpo material é feito "sob medida" para cada Espírito, e que não "serve" para nenhum outro. Aliás, temos no Espiritismo uma explicação detalhada de porque tal é o caso, fundamentada no conhecimento que nos propicia do processo de formação do corpo, em que intervém o Espírito.
Assim, a mencionada "exteriorização" de determinadas regiões do perispírito deve ser entendida unicamente como um "afrouxamento" dos laços que o ligam ao corpo material, e jamais como um rompimento desses laços e conseqüente "desocupação do lugar" para o Espírito comunicante. Mesmo que ocorresse tal rompimento (o que se dá apenas com a morte), o Espírito estranho não teria como agir sobre as células materiais formadas sob a influência de outro Espírito e para o seu próprio uso. Portanto, a emancipação do perispírito é apenas uma condição necessária para a sua "penetração" na realidade do mundo espiritual, para que nela colha impressões ou entre em contato com os Espíritos que pretendam comunicar-se com os encarnados.
É interessante notar que nas questões seguintes à transcrita, os Espíritos frisam -- mesmo enfrentando uma oposição inicial de Kardec -- que essa é uma regra absoluta, sem exceções, nem mesmo na mediunidade dita "mecânica", ou ainda nos casos de efeitos físicos onde uma mensagem inteligente é transmitida (tiptologia, escrita através de pranchetas, etc). Vemos, na questão 10 do referido parágrafo, que os Espíritos expressam indiretamente sua desaprovação a esse modo de denominar a mediunidade na qual o médium não guarda consciência do conteúdo da comunicação: o médium jamais atua como máquina, mecanicamente.

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