Parábola do Bom Samaritano
Sérgio Biagi Gregório
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é refletir sobre as dificuldades que
as convenções sociais impõem à prática da caridade.
2. CONCEITO
Parábola - do gr. parabole significa narrativa
curta, não raro identificada com o apólogo e a fábula. Vizinha da alegoria, ou
seja, consiste num discurso que faz entender outro.
Sinteticamente: narração alegórica na qual o conjunto dos
elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.
Samaritano - Depois do cisma das dez tribos, Samaria
tornou-se a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruídas por
várias vezes, ela foi, sob os Romanos, a sede de Samaria, uma das quatro
divisões da Palestina.
"Os Samaritanos estiveram, quase sempre, em guerra com os
reis de Judá; uma aversão profunda, datando da separação, perpetuou-se entre os
dois povos, que afastavam todas as relações recíprocas. Os Samaritanos, para
tornar a cisão mais profunda e não ter que ir a Jerusalém na celebração das
festas religiosas, construíram um templo particular, e adotaram certas reformas.
Eles não admitiam senão o Pentateuco contendo a lei de Moisés, rejeitando todos
os livros que lhe foram anexados depois. Seus livros sagrados eram escritos em
caracteres hebreus da mais alta antigüidade. Aos olhos dos Judeus ortodoxos,
eles eram heréticos, e, por isso mesmo, desprezados, anatematizados e
perseguidos. O antagonismo das duas nações tinha, pois, por único princípio a
divergência das opiniões religiosas, embora suas crenças tivessem a mesma
origem; eram os Protestantes daquela época". (Kardec, 1984, p. 18)
3. O TEXTO BÍBLICO
"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e
dizendo: Mestre, o que é preciso que eu faça para possuir a vida eterna? Jesus
lhes respondeu: Que está escrito na lei? Que ledes nela? Ele lhe respondeu:
Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, de
todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo coma a vós
mesmos. Jesus lhe disse: Respondeste muito bem; fazei isso e viverás.
Mas esse homem, querendo parecer que era justo, disse a
Jesus: E quem é o meu próximo? E Jesus tomando a palavra, lhe disse:
Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu nas mãos
de ladrões que o despojaram, cobriram-no de feridas e se foram, deixando-o
semi-morto. Aconteceu, em seguida, que um sacerdote descia pelo mesmo caminho e
tendo-o percebido passou do outro lado. Um levita, que veio também para o mesmo
lugar, tendo-o considerado, passou ainda do outro lado. Mas um Samaritano que
viajava, chegando ao lugar onde estava esse homem, e tendo-o visto, foi tocado
de compaixão por ele. Aproximou-se, pois, dele, derramou óleo e vinho em sua
feridas e as enfaixou; e tendo-o o colocado sobre sue cavalo, conduziu-o a uma
hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas e as deus ao
hospedeiro, dizendo: Tende bastante cuidado com este homem, e tudo o que
despenderdes a mais, eu vos restituirei no meu regresso.
Qual desses três vos parece ter sido o próximo daquele que
caiu nas mãos dos ladrões? O doutor lhe respondeu: Aquele que exerceu a
misericórdia para com ele. Ide pois, lhe disse Jesus, e fazei o mesmo". (São
Lucas, cap. 10, 25 a 37)
4. CAIRBAL SCHUTEL E O SAMARITANO
Cairbal Schutel, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus,
retrata a didática do discurso de Jesus em que o Mestre não perdia a
oportunidade para enaltecer os pobres, os deserdados, os repudiados pelas seitas
dominantes. Tanto nesta, como nas demais parábolas, o objetivo não muda, ou
seja, aproveita-se de uma realidade material para evocar as realidades de cunho
moral e espiritual. No caso específico desta parábola, Jesus escolhe o
Samaritano, considerado desprezado e herético pelos judeus ortodoxos. O
interessante, ainda, é que a referida parábola foi proposta a um Doutor da Lei,
a um judeu da alta sociedade que, para tentar o Mestre, foi inquiri-lo sobre a
vida eterna. O judeu doutor não ignorava os mandamentos, mas não os punha em
prática. Do mesmo modo pode-se falar dos sacerdotes, que conheciam perfeitamente
a Lei, mas não a punha também em prática. Por fim, diz que o viajante ferido
pode ser comparada a Humanidade saqueada de seus bens espirituais e de sua
liberdade, pelos poderosos do mundo. (1979, p. 74 a 77)
5. ALLAN KARDEC E O SAMARITANO
No quadro desta parábola é preciso separar a figura da
alegoria. A homens que estavam ainda na infância da espiritualidade, Jesus
precisou utilizar-se de imagens materiais, surpreendentes e capazes de
impressionar. Mas ao lado dessa parte acessória e figurada do quadro, há uma
idéia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada
ao mau. Jesus não fala das convenções externas da religião; simplesmente quer
exaltar a caridade, o único meio de salvação da alma. É por essa razão que Jesus
coloca o Samaritano, considerado herético, acima do ortodoxo que falta com a
caridade. (Kardec, 1984, cap. XV, item 2 e 3, p. 198 a 201)
6. PARÁBOLA MODERNA
O Irmão X, em Lázaro Redivivo, conta-nos esta versão da
parábola do Bom Samaritano:
"E eis que, em plena assembléia de espiritualidade, se
levantou um certo companheiro intelectualizado e dirigiu-se ao Amigo Sábio
Benevolente, que se comunicava através da organização mediúnica, perguntando,
para tentá-lo:
— Benfeitor da Humanidade, que devo fazer para alcançar a
vida eterna? Como agir para entrar na posse da verdadeira luz?
Respondeu-lhe o orientador:
— Que te aconselha a doutrina? Como lês o ensinamento do
Cristo?
O consulente pensou um minuto e replicou:
— Amarás o Senhor teu Deus, com todo o coração, com toda a
alma, com todas as forças, com todo o entendimento e a teu próximo como a ti
mesmo.
O Sábio Espiritual sorriu e observou:
— Respondeste bem. Faze isso e alcançarás a vida eterna.
Contudo, o intelectualista, apresentando justificativa e
desejando destacar-se no círculo dos irmãos, interrogou ainda:
— Como reconhecerei o meu próximo?
O comunicante assumiu atitude paternal e narrou" (Xavier,
1978, p. 243 e 244) a passagem, comparando o espiritista ao materialista, a qual
iremos resumir:
Situação 1: pessoas ignorantes que reclamavam o ensino.
Atitude do Espiritista: passou de largo dizendo que
aquilo não era Espiritismo.
Atitude do Materialista: distribui palavras conforto e
de encorajamento.
Situação 2: miserável mulher, exibindo terríveis sinais
de sífilis.
Atitude do Espiritista: passou de largo, com medo de
ser visto na casa de prazeres menos dignos, dizendo que aquilo não era
Espiritismo.
Atitude do Materialista: amparou a pobre criatura,
providenciando que fosse asilada em hospital próximo e colaborou no pagamento
das despesas.
Situação 3: grupo de trabalhadores, filiado às Igrejas
evangélicas, solicitando dinheiro para as pessoas carentes.
Atitude do Espiritista: como expressavam
interpretações diferentes das do Espiritismo, diz que aquilo não era
Espiritismo.
Atitude do Materialista: conversou, inteirou-se do
propósito e deu-lhe uma soma de dinheiro para a obra benemérita.
Por fim diz: Quem aprendeu a reconhecer próximo,
prestando-lhe serviços?
7. CONCLUSÃO
Vemos, por esta simples parábola, a grande dificuldade de
colocarmos em prática a verdadeira caridade. A maioria de nós ainda é católico,
espírita ou protestante de fachada. Esquecemo-nos de que a salvação da alma não
depende da religião que professamos, mas sim, e, unicamente, da caridade que
prestarmos ao nosso próximo.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
KARDEC, A. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
SCHUTEL, C.
Parábolas e Ensinos de Jesus. 11. ed., São Paulo, O Clarim, 1979.
XAVIER, F. C.
Lázaro Redivivo, pelo Espírito Irmão X. 6. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978.
São Paulo, abril de 2000
http://www.ceismael.com.br/artigo/parabola-bom-samaritano.htm
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