Páscoa
Práticas Distantes
Orson Peter Carrara
Agora passou! Mas todo ano, a cena se repete. Chega a época dos feriados católicos da chamada "Semana Santa" e surgem as questões:
Como o Espiritismo encara a Páscoa, Sexta-feira Santa"?
Qual o procedimento do espírita no chamado "Sábado de aleluia" e "Domingo de Páscoa"?
Como fica a questão do "Senhor Morto"?
Orson Peter Carrara
Agora passou! Mas todo ano, a cena se repete. Chega a época dos feriados católicos da chamada "Semana Santa" e surgem as questões:
Como o Espiritismo encara a Páscoa, Sexta-feira Santa"?
Qual o procedimento do espírita no chamado "Sábado de aleluia" e "Domingo de Páscoa"?
Como fica a questão do "Senhor Morto"?
Sabe que chego a surpreender-me com as perguntas. Não quando surgem de novatos na Doutrina, mas quando surgem de velhos espíritas, condicionados ao hábito católico, que aliás, respeitamos muito. É importante destacar isso: o respeito que devemos às práticas católicas nesta época, desde à chamada época, por nossos irmãos denominada de quaresma, até às lembranças históricas, na maioria das cidades revividas, do sacrifício e ressurgimento de Jesus. Só que embora o respeito devido, nada temos com isso no sentido das práticas relacionadas com a data.
São práticas religiosas merecedoras de apreço e respeito, mas distantes da prática espírita. É claro que há todo o contexto histórico da questão, os hábitos milenares enraizados na mente popular, o condicionamento com datas e lembranças e a obrigação católica de adesão a tais práticas.
Para a Doutrina Espírita, não há a chamada "Semana Santa", nem tão pouco o "Sábado de aleluia" ou o "Domingo de Páscoa" (embora nossas crianças não consigam ficar sem o chocolate, pela forte influência da mídia no consumismo aproveitador da data) ou o "Senhor Morto". Trata-se de feriado e prática católica e portanto, não existem razões para adesão de qualquer tipo ou argumento a tais práticas. É absolutamente incoerente com a prática espírita o desejar de "Feliz Páscoa!", a comemoração de Páscoa em Centros Espíritas ou mesmo alteração da programação espírita nos Centros, em virtude de tais feriados católicos. E vejo a preocupação de expositores ou articulistas em abordar a questão, por força da data... Não há porque fazer-se programas de rádio específicos sobre o assunto, palestras sobre o tema ou publicar artigos em jornais só porque estamos na referida data. É óbvio que ao longo do ano, vez por outra, abordaremos a questão para esclarecimento ou estudo, mas sem prender-se à pressão e força da data.
Há uma influência católica muito intensa sobre a mente popular, com hábitos enraizados, a ponto de termos somente feriados católicos no Brasil, advindos de uma época de dominação católica sobre o país, realidade bem diferente da que se vive hoje. E os espíritas, afinados com outra proposta, a do Cristo Vivo, não têm porque apegar-se ou preocupar-se com tais questões.
Respeitemos nossos irmãos católicos, mas deixemo-los agir como queiram, sem o stress de esgotar explicações. Nossa Doutrina é livre e deve ser praticada livremente, sem qualquer tipo de vinculação com outras práticas. Com isso, ninguém está a desrespeitar o sacrifício do Mestre em prol da Humanidade. Preferimos sim ficar com seus exemplos, inclusive o da imortalidade, do que ficar a reviver a tragédia a que foi levado pela precipitação humana.
Inclusive temos o dever de transmitir às novas gerações a violência da malhação do Judas, prática destoante do perdão recomendado pelo Mestre, verdadeiro absurdo mantido por mera tradição, também incoerente com a prática espírita.
A mesma situação ocorre quando na chamada quaresma de nossos irmãos católicos, espíritas ficam preocupados em comer ou não comer carne, ou preocupados se isto pode ou não. Ora, ou somos espíritas ou não somos! Compara-se isso a indagar se no Carnaval os Centros devem ou não abrir as portas, em virtude do pesado clima que se forma???!!!... A Doutrina Espírita nada tem a ver com isso. São práticas de outras religiões, que repetimos respeitamos muito, mas não adotamos, sendo absolutamente incoerente com o espírita e prática dos Centros Espíritas, qualquer influência que modifique sua programação ou proposta de vida.
Esta abordagem está direcionada aos espíritas. Se algum irmão católico nos ler, esperamos nos compreenda o objetivo de argumentação da questão, internamente, para os próprios espíritas. Nada a opor ou qualquer atitude de crítica a práticas que julgamos extremamente importantes no entendimento católico e para as quais direcionamos nosso maior respeito e apreço.
Vemos com ternura a dedicação e a profunda fé católica que se mostram com toda sua força durante os feriados da chamada Semana Santa e é claro, nas demais atividades brasileiras que o Catolicismo desenvolve.
O objetivo da abordagem é direcionado aos espíritas que ainda guardam dúvidas sobre as três questões apresentadas no início do artigo. O Espiritismo encara a chamada Sexta-feira Santa como uma Sexta-feira normal, como todas as outras, embora reconhecendo a importância dela para os católicos. Também indica que não há procedimento algum para os dias desses feriados. E não há porque preocupar-se com o Senhor Morto, pois que Jesus vive e trabalha em prol da Humanidade.
E aqui, transcrevemos trecho do capítulo VIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no subtítulo VERDADEIRA PUREZA, MÃOS NÃO LAVADAS (página 117 - 107ª edição IDE): "O objetivo da religião é conduzir o homem a Deus ora, o homem não chega a Deus senão quando está perfeito portanto, toda religião que não torna o homem melhor, não atinge seu objetivo (...) A crença na eficácia dos sinais exteriores é nula se não impede que se cometam homicídios, adultérios, espoliações, calúnias e de fazer mal ao próximo em que quer que seja. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem. Não basta, pois, ter as aparências da pureza, é preciso antes de tudo ter a pureza de coração".
Não pensem os leitores que extraímos o trecho pensando nas práticas católicas em questão. Não! Pensamos em nós mesmos, os espíritas, que tantas vezes nos perdemos em ilusões, acreditando cegamente na assistência dos espíritos benfeitores, mas agindo com hipocrisia, fanatismo e pasmem, superstição .... quando não conhecemos devidamente os objetivos da Doutrina Espírita, que são, em última análise, a melhora moral do homem.
(Publicado no Boletim GEAE Número 390 de 02 de maio de 2000)
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Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para marcar a data, como fazem as demais religiões ou filosofias cristãs.
Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.
Mas, isto não impede uma reflexão mais profunda, sobre mais esta celebração.
Pois, já estamos na hora de mudar nossos paradigmas e por fim as encenações teatrais de adoração, onde as pessoas dizem ir ao culto, as sinagogas, igrejas, adorarem a Deus, mas menosprezam o mesmo Deus nas ruas, como se este, tivesse criado uma linha divisória entre o templo e a oficina.
A verdade é que ninguém pode separar suas horas perante si e dizer, esta hora é para Deus, esta é para mim, esta ação é para Deus, esta é para mim.
Toda a terra é seu altar de oração, por louvá-lo nos templos e desprezá-los nas ruas é que temos naufragado mil vezes.
Mais uma Páscoa se aproxima e a simonia corre solta, como em todas as outras festas religiosas, a Sexta-Feira Santa chega e a humanidade desperta da sua letargia profunda, mas é apenas por algumas horas.
Pois, assim que o sol se põe, a humanidade retorna aos seus caminhos tortuosos. A cada Sexta-Feira Santa as pessoas param com seus afazeres para contemplar uma sombra coroada de espinhos, espinhos estes, que estas mesmas pessoas não quiseram tirar.
Os homens interrompem seus negócios para dirigir-se ao templo pedir ao cristo, mais lucros e confessar seus desenganos, mas o rito nem bem termina e o telefone toca chamando para mais um negócio proveitoso, e as promessas ditas a pouco, perdem seu valor de imediato.
As mulheres distraídas pelo brilho da vida, apaixonadas por jóias e vestidos, saem na Sexta-Feira Santa de suas casas para as procissões. Mas mal acaba a cerimônia e todos voltam aos seus caminhos entre risadas e comentários maldosos.
Foi apenas mais uma cerimônia religiosa assim como outras tantas, e nisto se resume às religiões em cerimônias, onde ninguém cogita, ninguém raciocina, para que serve isto?
Onde vamos chegar com estas encenações teatrais? De adoração exterior, onde as pessoas levantam suas mãos em direção aos céus, mas seu coração jaz adormecido nas trevas pantanosas da maledicência, da inveja, do ciúme, e da falsidade.
A maioria aceita a religião mas, não se preocupa em praticá-la. Brada bem alto para todos ouvir, Jesus, Jesus, mas continua com os ouvidos do coração surdos para suas mensagens?
Aonde tudo vai bem, se tem milagres, onde Jesus paga contas atrasadas, onde Jesus é proprietário de carros, dá casa, dá isto aquilo e o crente só precisa, para usufruir todas as regalias, contribuir com o dízimo.
Que interessa o que Jesus disse sobre a humildade, amor ao próximo, fé do tamanho de um grão de mostarda, etc, etc.
Se esta igreja não tiver o que eu busco, existem mil outras para eu garimpar. E assim seguem os garimpeiros dos milagres, saltitando de igreja em igreja, de religião em religião em busca de conforto material.
Por isto, a Doutrina Espírita segue seu caminho meio que no anonimato, pois não faz milagres, não promete curas, não oferece um lugar especial no céu, a única coisa que oferece é uma escolha: ou ficar no passado apegado ao materialismo dos rituais, dos mitos e da voracidade carnal, ou buscar o espírito e seu poder na espiritualidade pura que a Doutrina oferece.
O Espiritismo tem por finalidade libertar o espírito humano do visco da matéria, para que ele possa alçar o vôo da transcendência.
A religião espírita não comporta lamúrias e ladainhas, nem exige de seus adeptos atitudes formais, voz modulada, gestos artificiais e estudados.
A religião verdadeira não está nos templos, nas igrejas, mas no coração do homem, na forma de uma lei fundamental da natureza humana - a Lei de Adoração, que leva o homem a adorar a Deus no recesso de si mesmo, sem alardes nem fantasias.
A verdade é que o mundo celebra o nome de Jesus e as tradições que os séculos teceram em volta de seu nome, mas ele permanece um estrangeiro percorrendo o mundo e atravessando as religiões sem encontrar entre os povos quem compreenda a sua verdade.
MUACIEL MARQUES
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