Conversando com Chico Xavier
Delinquência juvenil
"Depois da luta da criança considerada em
penúria, apareceu para nós a luta criança demasiadamente livre nos
primeiros anos da existência...
Há muitos desequilíbrios, embora sejam descendentes de lares muito
abastados.Essas outras crianças crescem revoltadas pela ausência de
carinho; às vezes, sofrem o abandono, mesmo dos avós que não se
interessam pelos netos... De um lado, as crianças em penúria; de outro
lado, as que estão mais ou menos atendidas, ou às vezes altamente
atendidas em suas necessidades...
Hoje ouvimos falar de muitos crimes
efetuados por meninos de 10, 14 anos... Deveríamos tratar de códigos que
dessem a maioridade aos 14 anos. A criança é chamada a memorizar as
suas vidas passadas muito depressa, motivada pela televisão, etc.
Precisávamos da criação de leis que ajudem a criança a não se fazer
delinqüente nem viciada. O governo não pode ser responsável por todas as
nossas modalidades de penúria; não podemos exigir que os ministros
venham a fazer intervenções em nossas vidas familiares. O problema da
penúria é nosso. (...) Não temos uma disposição muito ativa em torno da
criança considerada desvalida; nós fazemos distribuições anuais, mas nos
esquecemos que criança, tal qual nos acontece, almoça todo dia, estuda
todo dia, toma banho todo dia...
De um lado, a criança em penúria; de
outro, a criança abandonada pelos pais... Vamos pedir a Deus para que
nos inspire a trabalhar um pouco mais, para dar mais um pouco do nosso
tempo”...
Chico começou a contar que no Japão
existia, há algum tempo, um surto muito grande de delinqüência. O
próprio governo sentia-se incapaz de conter aquela expansão infeliz...
Foi quando um grupo de senhoras sugeriu que, nas cidades, as famílias se
reunissem, em grupos de cinco a dez famílias, para debaterem o
problema. A idéia tomou vulto. Quase que o Japão inteiro começou a
reunir-se, semanalmente, discutindo o que se poderia fazer pela criança,
pelos reeducandos, para que a idéia do crime diminuísse. Em dois anos, o
índice de delinqüência juvenil diminuiu em 80%.
E ele continua, ante a forte expectativa geral:
"Se pudéssemos iniciar, sem distinção de
crenças, para ver as aberturas que precisamos fazer hoje nos domínios da
compreensão, teríamos muito menos a lamentar. Se pudéssemos reunir
quinzenalmente, não só os espíritas - não somos privilegiados, Deus é
Pai de nós todos - estabelecendo um laço de entendimento entre nós”...
Tudo parece ainda distante, mas as idéias são sementes e as palavras as disseminam...
Se pudéssemos discutir com amor o
problema, para saber o que podemos fazer junto aos reformatórios...
Infelizmente, hoje, os reformatórios são escolas de banditismo, por mais
queiramos negar, é realidade pura.
Delinqüência - prossegue - somos nós
mesmos que criamos. Há muita gente boa que se dedica exclusivamente ao
amparo do próximo, mas a verdade é que a maioria de nós outros conversa
sobre o assunto, acha-o extraordinário, mas desfeita a reunião alega
falta de tempo... Assim, vamos destruindo o que temos de melhor, pela
nossa incapacidade de trabalho, não de conhecimento.
Somos o País de mais amplo conhecimento
evangélico... O Brasil é o País de maioria católica, espírita... Tem
mais afinidade com a África do que os próprios africanos entre si. Aqui é
onde mais aprofunda-se no conhecimento vastíssimo; se quiséssemos,
poderíamos realizar muito.
Ontem era 1981, hoje é 1982, mas estamos
com os mesmos sentimentos. Precisamos alertar o nosso coração, não
nutrir um desprezo tão grande e, às vezes, tão calculado, pelos mesmos
problemas sociais... (...) Nós todos, caímos pela inteligência.
Sentimo-nos falsamente superiores aos outros. Mas resolveremos o assunto
pelo coração, pelo sentimento, pelo Cristo aplicado em nossa vida.
Temos muita pena do menino que está com fome, mas, às vezes, temos
desprezo total pelo menino que se fez delinqüente. Quem precisa mais? O
menino dado aos tóxicos ou que se entrega às más influências poderia ser
o nosso. Estamos na mesma embarcação e o naufrágio é para nós todos...
Fulano prega mas não faz... O problema é
para que cada um de nós meta as mãos no serviço. Do pouco de muitos é
que se faz aquilo que é necessário - legenda maravilhosa que já tem
idade de quase dois mil anos.
Nós agradecemos tanto uma gentileza, por
que é que vamos negar essa gentileza aos outros? São perguntas que
devemos fazer, pois, por enquanto, elas estão sem respostas".
Autismo
A lição que passaremos hoje para o papel,
não ocorreu propriamente à sombra do frondoso abacateiro onde,
habitualmente, Chico Xavier realiza o culto evangélico, em pleno coração
da Natureza. O que iremos narrar, tão fielmente quanto possível,
ouvimos num sábado à noite no "Grupo Espírita da Prece", logo após o
contato fraterno com os irmãos que residem nas imediações da "Mata do
Carrinho", o novo local onde as nossas reuniões vespertinas estão sendo
realizadas.
Um casal aproximou-se do Chico; o pai
sustentando uma criança de ano e meio nos braços, acompanhado por
distinto médico espírita de Uberaba. A mãe permaneceu a meia distância,
em mutismo total, embora com alguma aflição no semblante.
O médico, adiantando-se, explicou o caso
ao Chico: a criança, desde que nasceu, sofre sucessivas convulsões,
tendo que ficar sob o controle de medicamentos, permanecendo dormindo a
maior parte do tempo; em conseqüência, mal consegue engatinhar e não
fala.
Após dialogarem durante alguns minutos, o Chico perguntou ao nosso confrade a que diagnóstico havia chegado.
- Para mim, trata-se de um caso de
"autismo" - respondeu ele. O Chico disse que o diagnóstico lhe parecia
bastante acertado, mas que convinha diminuir os anticonvulsivos mesmo
que tal medida, a princípio, intensificasse os ataques. Explicou,
detalhadamente, as contra-indicações do medicamento no organismo
infantil. Recomendou passes.
- Vamos orar - concluiu.
O casal saiu, visivelmente mais
confortado, mas, segurando o braço do médico nosso confrade, Chico
explicou a todos que estávamos ali mais próximos:
- O "autismo" é um caso muito sério,
podendo ser considerado uma verdadeira calamidade. Tanto envolve
crianças quanto adultos... Os médiuns também, por vezes, principalmente
os solteiros, sofrem desse mal, pois que vivem sintonizados com o Mundo
Espiritual, desinteressando-se da Terra...
"E preciso que alguma coisa nos prenda no mundo, porque, senão, perdemos a vontade de permanecer no corpo”...
E Chico exemplificou com ele mesmo:
- Vejam bem: o que é que me interessa na
Terra? A não ser a tarefa mediúnica, nada mais. Dinheiro, eu só quero o
necessário para sobreviver; casa, eu não tenho o que fazer com mais de
uma... Então, eu procuro me interessar pelos meus gatos e meus
cachorros. Quando um adoece ou morre, eu choro muito, porque se eu não
me ligar em alguma coisa eu deixo vocês...
Ele ainda considerou que muitos casos de
suicídios têm as suas raízes no "autismo" , porque a pessoa vai perdendo
o interesse pela vida, inconscientemente deseja retornar à Pátria
Espiritual, e para se libertar do corpo, que considera uma verdadeira
prisão, força as portas de saída...
E Chico falou ao médico:
- É preciso que os pais dessa criança
conversem muito com ela, principalmente a mãe. É necessário chamar o
Espírito para o corpo. Se não agirmos assim, muitos Espíritos não
permanecerão na carne, porque a reencarnação para eles é muito dolorosa.
Evidentemente que não conseguimos registrar tudo, mas a essência do assunto é o que está exposto aqui.
E ficamos a meditar na complexidade dos problemas humanos e... na sabedoria de Chico Xavier.
Quando ele falava de si, ilustrando a
questão do "autismo", sentimo-lo como um pássaro de luz encarcerado numa
gaiola de ferro, renunciando à paz da grande floresta para entoar
canções de imortalidade aos que caíram, invigilantes, no visgo do
orgulho ou no alçapão da perturbação.
Nesta noite, sem dúvida, compreendemos melhor Chico Xavier e o admiramos ainda mais.
De fato, pensando bem, o que é que pode
interessar na Terra, a não ser o trabalho missionário em nome do Senhor,
ao Espírito que já não pertence mais à sua faixa evolutiva?!
O Espírito daquela criança sacudia o corpo que convulsionava, na ânsia de libertar-se...
Sem dúvida, era preciso convencer o
Espírito a ficar... Tentar dizer-lhe que a Terra não é tão cruel
assim... Que precisamos trabalhar pela melhoria do homem...
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